quarta-feira, 14 de novembro de 2007

I was born a world ago

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Todas as noites, a cidade de Los Angeles acolhe uma diversidade de músicos que procuram ver o seu trabalho reconhecido pelo exigente público californiano. Seja no palco do mítico Troubador, ou na mais anónima das salas, qualquer singer songwriter pretende, acima de tudo, que as suas composições possam transportar algo que lhes confira um traço diferenciado, a sua própria marca d'água. Daí que quando se tem uma voz que se confunde de imediato com nomes como Rufus Wainwright ou Richard Swift. Quando uma primeira faixa antecipa desde logo a nostalgia latente que percorre uma outra LA, perdida nos tempos. Quando tudo isto é assumido pelo seu autor, então deparamo-nos com mais um lugar comum. Daí que a única fuga resida na escrita e na qualidade da sua interpretação. Componentes estas determinantes em Catch the brass ring, primeiro longa duração do ainda praticamente desconhecido Ferraby Lionheart.



A primeira faixa do álbum, Un ballo della Luna, parece ter sido gravada para um velho transistor da década de 30, através do qual a voz de Ferraby persegue alguns acordes que se repetem ao longo de pouco mais de um minuto e meio. Trata-se seguramente de um dos mais inspirados intros para um álbum desta natureza, não só pela beleza e simplicidade que encerra, mas também pela convocação de um imaginário de storytelling, comum a todas as faixas. É desta forma que em Vermont Avenue acompanhamos o dia de um trovador urbano que, numa esquina da velha LA, ainda escolhe viver o romantismo das poucas moedas que caem aos seus pés (We don't have a dime between us / We can make a meal of dust / Everybody works someday / But we'll beg and borrow...).



É pois uma cidade esquecida aquela que Ferraby canta ao longo de Catch the brass ring. A LA glamorosa da década de 40, de Harry Nilson e Judy Garland, de um pôr do sol dourado reflectido nos seus passeios. Uma cidade que consegue recuperar em faixas como The car maker, construída sobre elegantes arranjos que escondem a frustração de uma personagem que procura uma fuga da dependência em que vive, de um emprego que lhe garante a subsistência mas não a sua realização pessoal. É pois uma cidade de contradições a que Ferraby Lionheart canta em Catch the brass ring, na qual as suas personagens ora caminham por um lamento bucólico e distante, ora acordam para um optimismo que procuram agarrar entre as mãos (You can be high / You can be low / Under a tree, over the world / I still believe there's time to live before we're dead...).



Nas últimas semanas este rapaz não tem saído do meu moderno transistor. A Carla acha que alguém que se chama Ferraby Lionheart só poderia fazer algo de muito bom. Eu concordo com ela. The boy's starshaped.



Autoria de Pedro Sousa e Carla Lopes

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