sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Metro : sexta.30.Novembro.2007

Bon Iver: Form Emma, Forever Ago
"For Emma"

o álbum inteiro em stream: aqui
download mp3: "Skinny Love"
edição oficial pela Jagjugwar a 19.Fev.2008




Efterklang: Parade
s
"Mirador"
"Him Poe Poe"
"Caravan"



Goldmund: Two Point Discrimination

"From"

"Light"
download mp3: "Leading"
download mp3: "one."




Winter Family
: Winter Family

"Salted Slug"
"Garden"




por Pedro Arinto e Inês Patrão

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Un soir Boulevard Voltaire

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Mais do que um álbum, Favourite songs é um roteiro. Um mapa traçado pela mão de Vincent Delerm, que nos reconduz ao passado da chanson, confrontando esse distante legado com os trabalhos de alguns dos seus contemporâneos. No palco do La Cigale de Paris, não se cruzam apenas nomes ou referências; nele o próprio tempo descreve uma curva, dando lugar à partilha e à memória.



Memória essa que remonta aos anos 60, implícita na presença em palco de Georges Moustaki, autor, compositor e intérprete, hoje nos últimos anos da sua vida. Uma recordação distante de alguém que se fez acompanhar por Edith Piaf, e que até aos dias de hoje não mais parou de escrever e de compor. Nesta mesma noite, Georges Moustaki haveria de regressar ao palco para um tributo final do público parisiense, interpretando, ainda na companhia de Delerm, As águas de Março, num português agradavelmente imperceptível.



Num banco de jardim reúnem-se então a Delerm duas figuras. A de um renovado Renaud, nome maior da chanson na década de 70, hoje a promover o seu mais recente álbum editado pela Tôt ou Tard, pela qual assina também Delerm, e a figura de Bénabar, seguramente um dos responsáveis pelo revivalismo da obra de Brel, em França. O tema, da autoria de Renaud, chama-se Cent ans, e claro está, apresenta-nos uma personagem envelhecida, que de um banco de jardim lamenta a vida que se esgota ao ritmo de cada folha que cai. À semelhança de Godinho, também ele se rodeou de músicos jovens, assumindo desta forma um natural upgrade nas estruturas e nos arranjos dos seus temas. De uma escrita bastante cínica e interpretação expressiva, Renaud assiste hoje à sua redescoberta por um público francês mais jovem e entusiasta.



Pisam de seguida o palco Alain Chamfort e Cali. Segue-se então a revisita a Rose Kennedy, álbum maior da chanson actual, primeiro trabalho de Benjamin Biolay, em palco pela primeira vez, na companhia do outro nome que com ele ombreia, numa prolífera criação músical que nos tem oferecido, em tão poucos anos, faixas como Les cerfs volants. Cruzam-se as duas vozes mais emblemáticas da sua geração. E por momentos esquecemos outros trabalhos como Négatif, Home e Trash yé yé, face à injustiça de escolher apenas uma faixa da vasta obra de Biolay.

Love is a traveller on the river of no return...




E após o reencontro com a actriz Irène Jacob, chega um verdadeiro actor, autor e performer, de seu nome Phillipe Katerine. Segurando um frango cuidadosamente depenado, cozinhado e etiquetado, chama a si a interpretação exclusiva de Poulet nº 728120, uma ironia tremenda ao frio consumismo do nosso tempo, no qual alguém estranhamente se apaixona por um frango que lhe é vendido numa grande superfície, um frango indiferenciado, apenas um número entre tantos outros.

Mais tarde, entra em palco a única voz não francófona. Do alto do seu metro e sessenta, Neil Hannon (ou melhor, Nil Hánon) denuncia a sua extrema dificuldade em cantar em francês. Curiosamente, o poema que ambos interpretam, intitulado Favourite song, prende-se exactamente com tudo o que se perde na tradução, tornando ainda mais embaraçosos os repetidos erros de Neil Hannon, que não se coíbe a por várias vezes se lamentar com um muito britânico: Shit!



J'ai ecouté toute ce chanson française
Mais je ne savais pas ce qu'est une Javanaise
Un Poinçonneur de lilas... Ça veux dire quoi?

Studied the booklet in search for a song
Made up a meaning for every line
A four letter word... L.O.V.E.

Une poupée de cire... Qu'es-ce que ça voulait dire?



Muitos outros nomes passam pelo palco do La Cigalle de Paris (Mathieu Boogaerts, Helena Noguerra, Franck Monnet, Jeanne Cherhal e Albin de la Simone), mas é o final da noite que encerra o momento mais vibrante deste álbum. Nele toda a dimensão cinematográfica das composições de Delerm é revista, ao ser convocada a figura de Alain Souchon para juntos interpretarem Y a d'la rumba dans l'air. Este último, um dos nomes maiores da música francesa, dividiu sempre este percurso com o cinema, tendo sido o responsável pela música de filmes de François Truffaut, e protagonizado mesmo algumas personagens, como em L'amour en fuite. A influência de Alain Souchon na obra de Delerm é inegável, sendo que as composições deste último são também elas uma porta de entrada para a descoberta de Alain Souchon.

Ao longo de todo o álbum, porém, um nome permanece em palco. Ao seu piano, rodeado do genial trompetista Ibrahim Maalouf, de um grande percussionista chamado Nicolas Mathuriau, e de outros músicos de assinalável engenho, Vincent Delerm prova hoje ser um nome aglutinador e determinante para a música francesa. Um nome que certamente daqui a muitos anos pertencerá à memória colectiva de todo um público francófono, que o tributará novamente no La Cigalle.


Metro realizado por Pedro Sousa e Carla Lopes



sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Metro : sexta.16.novembro.2007

Devendra Banhart: Smokey Rolls Down Thunder Canyon
"Cristobal (with Gael García Bernal)"
"Rosa (with Rodrigo Amarante)"
"My Dearest Friend"
download mp3: "Seahorse"



Grizzly Bear: Friend EP
"Plans (covered by Band of Horses)"
"He Hit Me"
download mp3: "Alligator (Choir Version)"





Sigur Rós: Hvarf-Heim
"Hljómalind"
(do EP Hvarf)





Sigur Rós: Hvarf-Heim
"Vaka"
(do EP Heim)



por Inês Patrão e João Terêncio

[este programa repete Qua.21.Nov: 7h]

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

I was born a world ago

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Todas as noites, a cidade de Los Angeles acolhe uma diversidade de músicos que procuram ver o seu trabalho reconhecido pelo exigente público californiano. Seja no palco do mítico Troubador, ou na mais anónima das salas, qualquer singer songwriter pretende, acima de tudo, que as suas composições possam transportar algo que lhes confira um traço diferenciado, a sua própria marca d'água. Daí que quando se tem uma voz que se confunde de imediato com nomes como Rufus Wainwright ou Richard Swift. Quando uma primeira faixa antecipa desde logo a nostalgia latente que percorre uma outra LA, perdida nos tempos. Quando tudo isto é assumido pelo seu autor, então deparamo-nos com mais um lugar comum. Daí que a única fuga resida na escrita e na qualidade da sua interpretação. Componentes estas determinantes em Catch the brass ring, primeiro longa duração do ainda praticamente desconhecido Ferraby Lionheart.



A primeira faixa do álbum, Un ballo della Luna, parece ter sido gravada para um velho transistor da década de 30, através do qual a voz de Ferraby persegue alguns acordes que se repetem ao longo de pouco mais de um minuto e meio. Trata-se seguramente de um dos mais inspirados intros para um álbum desta natureza, não só pela beleza e simplicidade que encerra, mas também pela convocação de um imaginário de storytelling, comum a todas as faixas. É desta forma que em Vermont Avenue acompanhamos o dia de um trovador urbano que, numa esquina da velha LA, ainda escolhe viver o romantismo das poucas moedas que caem aos seus pés (We don't have a dime between us / We can make a meal of dust / Everybody works someday / But we'll beg and borrow...).



É pois uma cidade esquecida aquela que Ferraby canta ao longo de Catch the brass ring. A LA glamorosa da década de 40, de Harry Nilson e Judy Garland, de um pôr do sol dourado reflectido nos seus passeios. Uma cidade que consegue recuperar em faixas como The car maker, construída sobre elegantes arranjos que escondem a frustração de uma personagem que procura uma fuga da dependência em que vive, de um emprego que lhe garante a subsistência mas não a sua realização pessoal. É pois uma cidade de contradições a que Ferraby Lionheart canta em Catch the brass ring, na qual as suas personagens ora caminham por um lamento bucólico e distante, ora acordam para um optimismo que procuram agarrar entre as mãos (You can be high / You can be low / Under a tree, over the world / I still believe there's time to live before we're dead...).



Nas últimas semanas este rapaz não tem saído do meu moderno transistor. A Carla acha que alguém que se chama Ferraby Lionheart só poderia fazer algo de muito bom. Eu concordo com ela. The boy's starshaped.



Autoria de Pedro Sousa e Carla Lopes

sábado, 10 de novembro de 2007

Annie one i love



St. Vincent Marry me


Sobre a Annie Clark desejo apenas escrever algo frágil. Algo que resgate esta Marry me da penumbra daquele quarto parisiense no qual se esconde. Que reponha entre a pontuação os seus silêncios. Encerrando em cada palavra o despojamento que encontramos na sua voz. Perpetuando na escrita cada acorde. Cada pormenor que faz dela uma habitual e nocturna companhia. De corpo frágil. Guitarra desalinhada. Algo que me denuncie.



St. Vincent Paris is burning

While Jesus is saving i'm spending all my days, in backgrounds and landscapes with the languages of saints. While people are spending like toys in Christmas Day, and inside a still life with the other absentee. You go my love, the stage is waiting. Be the one to save my saving grace.

Pedro Sousa.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

De uma miserável ausência por que passámos

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O jornalista britânico Jon Savage afirma que a dinâmica da chamada música independente obedece a um movimento pendular entre os dois lados do Atlântico. Daí que a deriva yankee que marcou as últimas duas edições do Metro venha denunciar, mais uma vez, de que lado encontramos esse pêndulo. De tal forma que têm sido escassas as oportunidades de deixarmos o vasto território norte americano, tal a consecutiva emergência de nomes na área da indie pop e da indie folk...



Os quarteirões nova iorquinos que assistiram à Grande Depressão de 1929 são os mesmos que acolhem nos dias de hoje uma das mais contagiantes bandas desta cidade. Quarteto fundado por Ezra Koenig, os Vampire Weekend procuram fugir à habitual estética rock da maioria dos nomes oriundos da big apple. Ao contrário dos Interpol, The Strokes e de tantos outros, cujo imaginário nos transporta para o interior do CBGB na ida década de 70, este projecto (à semelhança dos Bishop Allen) convoca as raízes multiculturais de uma cidade que hoje se exprime numa diversidade de idiomas. As suas coordenadas encontramo-las nos álbuns de David Byrne e de Paul Simon, e na contínua utilização que estes dois autores fizeram de elementos africanos, tendo esse legado sido recuperado por Ezra Koenig. Em faixas como Cape Cod kwassa kwassa e One, a secção rítmica demarca-os dos seus pares, remetendo-nos para o afrobeat ou para os territórios de Graceland. Em The kids don't stand a chance, cumpre-se a síntese perfeita entre a elegante chamber pop de Stephen Merritt ou Neil Hannon e aquelas paragens mais remotas.



Quando instado pela imprensa norte americana a catalogar a sonoridade dos Vampire Weekend, Ezra socorre-se muitas vezes da etiqueta Upper West Side Soweto, na qual convergem dois bairros tão distantes na sua geografia como na sua natureza social. Esta aparente contradição funde-se ao longo da dezena de faixas que constitui este primeiro trabalho, e em particular na lírica de temas como Cape Cod kwassa kwassa («As a young girl / Louis Vouitton / With your mother on a summer lawn / As a sophomore / reggaeton...») que nos fazem redescobrir, vinte anos depois, as fronteiras de Graceland...



E se em apartamentos do campus universitário de Columbia se escuta avidamente Fela Kuti ou David Byrne, já em outra parte desta cidade, seguramente bem mais fria, um desconhecido a quem chamam apenas Brent, descreve em despojadas composições, instrumentais ou pontuadas por vocalizações frágeis e sumidas, o momento em que acordamos, abrimos os olhos, e obrigamos o nosso corpo a um primeiro movimento. É desta forma que as descreve, sob a assinatura Shh...This is a library. Como que se tratasse de um mero suspiro que pretende ser escutado apenas por alguns. Talvez os mesmos que adquiriram as 50 cópias deste primeiro trabalho. Cada uma delas ostentando uma diferente ilustração. Todas elas gravadas num four tracker. No quarto de Brent. Trazem consigo também uma saqueta de chá, para saborearmos a sua audição. Consegue-se estar mais próximo de quem nos escuta?

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Esta proximidade entre o remetente e o destinatário é uma das maiores forças da etiqueta indie. O despojamento, por vezes técnico, e a imediata identificação com o autor por parte do seu público devem muito ao realismo que subsiste na sua escrita e numa certa atitude de desassombro que é transversal a quase todos estes nomes. O facto de muitos partilharem a música com uma actividade profissional ou universitária confere aos seus trabalhos um carácter mundano e um realismo que se encontra latente em pequenas composições de pouco mais de três minutos.



Este é o caso de Alex Church, que acaba de editar Leaves in the river, o seu primeiro trabalho a solo após um período passado no colectivo Irving, projecto oriundo de LA do qual, ao longo do último ano, já emergiram dois nomes: Alex Church enquanto Sea Wolf e Shana Levy sob a assinatura Let's Go Sailing. Após as expectativas criadas com a edição do EP Get to the river before it runs too low, há muito que em vários blogs eram deixadas algumas pistas do que poderia incorporar este primeiro longa duração de Sea Wolf. O resultado traz-nos faixas como Middle distance runner, composição cuidada em que a interpretação de Alex nos remete para o imaginário de Sea change, ou Black leaf falls na qual o despojamento próprio da folk descobre a escrita de Alex Church. Esta aparece como uma marca singular do seu trabalho, não só por lhe imprimir um registo de storytelling, como também por conter um tom dramático e negro pontuado por arranjos de cordas, convocando o legado de Automatic for the people.



E é ainda desta mesma California que destacamos mais um projecto. Chamam-se Davyd Nereo e Ayla Nereo e apresentam-se como Beatbeat Whisper. Oriundos de Oakland, percorrem os caminhos do bluegrass e da indie folk, tendo ao longo do último ano gravado um conjunto de faixas num estúdio improvisado em sua casa. O álbum, edição de autor, chegou em já em 2007, podendo ser adquirido através do seu site ou myspace. Ao longo destes meses os Beatbeat Whisper têm assistido ao crescimento da sua base de fãs, potenciada por críticas favoráveis que podemos encontrar em inúmeros blogs e revistas da especialidade. As suas melodias chegam-nos frágeis através da voz de Ayla, entrelaçada numa teia de acordes, xilofones e banjos, em que cada verso parece-nos marcado por uma pastoral e doce melancolia...

Autoria de Pedro Sousa e Carla Lopes