quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Fogo e gelo


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In our bedroom after the war

Brevemente o vento soprará frio de Outono em Montreal.
No mesmo cenário duro, com uma mesma melancolia urbana que traça a giz contornos adolescentes de futuras personalidades, os Stars lançam mais um eco de uma tal de poesia quotidiana em forma de disco. “In our bedroom after the war” segue fielmente o desejo de contar com travo amargo e rasgos de humor e ironia, a crueza das relações humanas, como tão bem já o tinham feito em “Set yourself on fire” (2004). Mas não se esquiva de assumir, com igual subtileza que ferra, uma posição política.

Dentro do “quarto” estamos agora seguros e abrigados, mas não está esquecido o que se passou lá fora. Dentro do “quarto” está quente, está um calor que os Stars deixam percorrer estas canções, como a bonança depois da tempestade.

Começa na alquimia de vozes – Torquil Campbell e Amy Millan estão mais cúmplices que nunca, e o que dizem exige ser ouvido. As letras arrebatam e obrigam a um silêncio, para que se escutem as palavras e se construam cenários. Os arranjos ganham força pelo despojamento e produção polida, onde nenhum instrumento está a mais e o colectivo brilha ao trabalhar fórmulas pop, daquelas que nos habituámos a ouvir saídas das guitarras e teclados de uns Eels, que tal como os Stars, nos habituaram a uma densidade, que parece ter ficado para trás na invenção das novas tendências da pop contemporânea. A música de “In our bedroom after the war” tem carga emocional, positiva ou negativa q.b., e vem sacudir o frio de Montreal – os Stars oferecem uma redenção em forma de música como nunca tão bem tinham feito, e que manterá quentes os ouvidos e a alma neste Outono.



What is free to a good home?

A voz de Emily Haines poderia perfeitamente bastar para se prestar uma boa parte de atenção a “What is free to a good home?”, EP onde a música é minimal, entre um piano e uma guitarra e uma das mais enigmáticas e interessantes intérpretes do Canadá actualmente. Existe uma aura à volta de Emily muito para além da evidência das melodias simples e pouco ambiciosas – existe uma suavidade que consegue ser visceral e uma doçura hipnótica. O que fomos conhecendo do seu trabalho com os Metric e Broken Social Scene aparece aqui reduzido, num registo despido em formato confessional, íntimo, um one woman show, dedicado à memória do seu pai, o poeta Paul Haines, de quem aqui canta alguns versos. E quando se chega a ver algum registo de Emily Haines & the Soft Skeleton ao vivo, já se adivinhou há muito que ela tem algo de especial.



In our bedroom after the war (Arts & Crafts; 2007)
01. the ghost of Genova Heights
02. the night starts here
03. personal
04. take me to the riot
05. bitches in Tokyo


What is free to a good home (Arts & Crafts; 2007)
01. rowboat
02. the bank
03. sprig


Autoria e realização de Carla Lopes e Pedro Sousa

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