Quinze anos passados desde a edição de Slanted and enchanted, um verdadeiro marco no vasto território indie, muito parece ter mudado na vida de Stephen Malkmus. Após os últimos batimentos dos Pavement por volta da viragem do século, o carismático vocalista e letrista do projecto californiano mudou-se de malas e bagagens para a menos solarenga cidade de Portland. Hoje, ao assumir responsabilidades paternais, Stephen leva uma vida bem mais calma do que aquela que levou ao longo da década de 90; o que não significa que se tenha desligado da sua vocação artística. Desde que se mudou para Portland já editou quatro trabalhos, aproveitando também o facto de esta cidade estar assinalada no mapa como um daqueles geisers em permanente ebulição artística. Nela formou os The Jicks, um quarteto que conta ainda com Joanna Bolme, Mike Clark e a baterista Janet Weiss (ex-Sleater Kinney), nunca tendo desta forma abraçado uma carreira verdadeiramente a solo. Embora nesta sua segunda vida os The Jicks possam ser vistos como meros músicos de estúdio que não interferem no processo criativo de Stephen, em recentes entrevistas tem este reafirmado que se trata de um projecto sólido e envolvente. Para que este projecto se tornasse uma realidade, muito contribuiu a recente exclusividade de Janet Weiss, que parece ter deixado para trás, e em definitivo, outros projectos paralelos.
O resultado de semanas divididas entre um estúdio em Montana e a casa do singer songwriter Jeff Tweedy em Brooklyn intitula-se Real emotional trash. O legado dos Pavement permanece intocável, seja na assunção de um riff de guitarra quando o esperamos, ou na forma como Stephen imprime a cada verso uma vocalização que, ainda hoje, é imediatamente identificável como sendo sua. As suas capacidades enquanto letrista mantêm a estranheza e a complexidade que lhe renderam um verdadeiro culto (na contagiante faixa Wicked Wanda canta "Wicked wicked Wanda / She's not so good to go out / I'd rather go out with Rwanda).
Ao escutarmos Real emotional trash recordamos a cumplicidade criativa que aproximava os Pavement e os Sonic Youth, percorremos o imaginário de Stephen Malkmus enquanto cronista urbano, possuidor de um fino recorte de ironia, revisitamos o legado dos Kinks (de forma indisfarçável em We can't help you e Gardenia) e matamos saudades de Crooked rain, crooked rain, que ainda hoje alguns de nós escutam regularmente, como se de um troféu se tratasse. Go back to those gold sounds...
Ao escutarmos Real emotional trash recordamos a cumplicidade criativa que aproximava os Pavement e os Sonic Youth, percorremos o imaginário de Stephen Malkmus enquanto cronista urbano, possuidor de um fino recorte de ironia, revisitamos o legado dos Kinks (de forma indisfarçável em We can't help you e Gardenia) e matamos saudades de Crooked rain, crooked rain, que ainda hoje alguns de nós escutam regularmente, como se de um troféu se tratasse. Go back to those gold sounds...
De assinalar ainda a curta passagem pelo EP Light works, o mais recente trabalho dos Aloha, projecto oriundo de Brooklyn, NY, que curiosamente, após a edição de dois álbuns, convoca as atenções da imprensa norte americana com este EP de seis faixas. O que à partida pretendia ser apenas um "aquecimento" para a gravação de um futuro longa duração, acabou por render aos Aloha o reconhecimento da imprensa e muitos mais olhares atentos por parte daqueles que até esta data ainda não seguiam os seus trabalhos. O indie rock algo etéreo de temas como Broken light, na qual a percussão e a voz de Tony Cavallario predominam, elevam as expectativas em relação ao próximo álbum destes nova iorquinos.
Deixando o capítulo norte americano para trás, regressámos na última semana à Europa. A Carla já me tinha garantido que o novo álbum de Goldfrapp era diferente dos anteriores, porém confesso que não esperava que fosse tão despojado e surpreendente. A voz de Alison surge-nos doce e pastoral. As composições tingidas pelo imaginário de Nick Drake e Syd Barrett, nomes maiores e tantas vezes repetidos, quando se trata da tradição folk britânica. Os elementos electrónicos apenas pontuam cada faixa, de uma forma secundária e ostensivamente despercebida, capturando cenários como aquele que ilustra este texto. Longe vão os tempos das vocalizações épicas e límpidas que encontrávamos em Felt mountain; mais estranho, face ao presente, as sucessivas incurdões por uma electrónica dançável. O resultado de Seventh tree radica nas melodias pop de Caravan girl, em refrões que se repetem como o de Happiness, e em Clowns, uma faixa destinada aos primeiros raios de sol...
Raios de sol que mais dificilmente chegam a Gotemburgo, cidade que, tal como Portland, se destaca pela sua efervescência artística. A partir da qual dois nomes têm lançado blitzes nos últimos tempos, recolhendo cada vez mais militantes para uma causa cujo objectivo maior é a perfeição pop: Jens Lekman e El Perro del Mar. O primeiro capitaliza hoje, por território norte americano, os efeitos de Night falls over Kortedalla, enquanto que Sarah Assbring acaba de editar o seu segundo longa duração: From the valley to the stars.
Um segundo trabalho em que a jovem autora sueca procura soluções para as suas composições que pareciam demasiado reféns do carácter mimético e repetitivo do primeiro álbum. A estrutura das suas faixas parte sempre da repetição de uma melodia e da palavra, e da exploração da sua voz, num tom melancólico e por vezes distante. Em From the valley to the stars nada disto se perde, contudo Sarah introduz não só instrumentos que nos remetem para uma atmosfera menos fria do que aquela que percorria Look! It's El Perro del Mar, como confere a algumas das faixas uma marca quase religiosa, pela forma como utiliza orgãos de igreja e coros da mesma natureza (presentes em Happiness won me over). Trata-se de uma fuga possível face ao curto perímetro que a estrutura das suas composições lhe oferece, restando ainda espaço para faixas como Somebody's baby, puro exercício pop que parece ter transitado das sessões do seu trabalho anterior, ou Inside the golden egg, deliciosa peça instrumental remanescente da década de 40, devendo bastante aos pequenos exercícios de Damon Albarn, que encontrávamos nos primeiros álbuns dos Blur. E se em palco, Sarah se apresentava tendo o auxílio de samples e de apenas dois músicos (e recordo-me de um concerto abusivamente barulhento no Imago há dois anos), afigura-se curioso o formato que terá em mente de modo a transportar para o palco esta marca de maior sobriedade, e por vezes complexidade, que incorpora From the valley to the stars.
PS: Entre estas duas viagens do Metro de Quarta-feira, uma terceira contou com a presença da Inês Patrão que, pela segunda vez, acompanhou a Carla num programa em que se destacaram os álbuns do projecto The Do e de Chris Walla. Encontram a setlist deste programa num post que a Inês aqui colocou. Aproveitamos pois para agradecer à Inês, assim como à Sara Mendes, pelas substituições de última hora, face a imprevistos que não são nada indie.
Deixando o capítulo norte americano para trás, regressámos na última semana à Europa. A Carla já me tinha garantido que o novo álbum de Goldfrapp era diferente dos anteriores, porém confesso que não esperava que fosse tão despojado e surpreendente. A voz de Alison surge-nos doce e pastoral. As composições tingidas pelo imaginário de Nick Drake e Syd Barrett, nomes maiores e tantas vezes repetidos, quando se trata da tradição folk britânica. Os elementos electrónicos apenas pontuam cada faixa, de uma forma secundária e ostensivamente despercebida, capturando cenários como aquele que ilustra este texto. Longe vão os tempos das vocalizações épicas e límpidas que encontrávamos em Felt mountain; mais estranho, face ao presente, as sucessivas incurdões por uma electrónica dançável. O resultado de Seventh tree radica nas melodias pop de Caravan girl, em refrões que se repetem como o de Happiness, e em Clowns, uma faixa destinada aos primeiros raios de sol...
Raios de sol que mais dificilmente chegam a Gotemburgo, cidade que, tal como Portland, se destaca pela sua efervescência artística. A partir da qual dois nomes têm lançado blitzes nos últimos tempos, recolhendo cada vez mais militantes para uma causa cujo objectivo maior é a perfeição pop: Jens Lekman e El Perro del Mar. O primeiro capitaliza hoje, por território norte americano, os efeitos de Night falls over Kortedalla, enquanto que Sarah Assbring acaba de editar o seu segundo longa duração: From the valley to the stars.
Um segundo trabalho em que a jovem autora sueca procura soluções para as suas composições que pareciam demasiado reféns do carácter mimético e repetitivo do primeiro álbum. A estrutura das suas faixas parte sempre da repetição de uma melodia e da palavra, e da exploração da sua voz, num tom melancólico e por vezes distante. Em From the valley to the stars nada disto se perde, contudo Sarah introduz não só instrumentos que nos remetem para uma atmosfera menos fria do que aquela que percorria Look! It's El Perro del Mar, como confere a algumas das faixas uma marca quase religiosa, pela forma como utiliza orgãos de igreja e coros da mesma natureza (presentes em Happiness won me over). Trata-se de uma fuga possível face ao curto perímetro que a estrutura das suas composições lhe oferece, restando ainda espaço para faixas como Somebody's baby, puro exercício pop que parece ter transitado das sessões do seu trabalho anterior, ou Inside the golden egg, deliciosa peça instrumental remanescente da década de 40, devendo bastante aos pequenos exercícios de Damon Albarn, que encontrávamos nos primeiros álbuns dos Blur. E se em palco, Sarah se apresentava tendo o auxílio de samples e de apenas dois músicos (e recordo-me de um concerto abusivamente barulhento no Imago há dois anos), afigura-se curioso o formato que terá em mente de modo a transportar para o palco esta marca de maior sobriedade, e por vezes complexidade, que incorpora From the valley to the stars.
PS: Entre estas duas viagens do Metro de Quarta-feira, uma terceira contou com a presença da Inês Patrão que, pela segunda vez, acompanhou a Carla num programa em que se destacaram os álbuns do projecto The Do e de Chris Walla. Encontram a setlist deste programa num post que a Inês aqui colocou. Aproveitamos pois para agradecer à Inês, assim como à Sara Mendes, pelas substituições de última hora, face a imprevistos que não são nada indie.
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