Se um bater de asas na China provoca um sismo do outro lado do globo, do mesmo modo, 250 000 bolas coloridas, ao descerem uma rua de San Francisco, catapultam um até aí desconhecido singer songwriter sueco. É um facto que o percurso de Jose Gonzalez encontra-se intimamente ligado a uma campanha publicitária, e que tal como alguns dos seus pares, poderia ver esse mesmo percurso comprometido e demarcado por aquela cedência, ou não radicasse tais estratégias na repetição exaustiva de um jingle, levada em certos casos a patamares de saturação, e arrastando consigo algumas faixas de qualidade indiscutida. Desde os The Dandy Warhols a Peter, Bjorn & John são vários os exemplos do avanço das grandes marcas sobre o território indie, até há bem poucos anos avesso a integrar as fileiras de uma qualquer operação publicitária ou série televisiva de culto momentâneo.
Daí que se tenha gerado alguma desconfiança em torno deste autor, que em 2005, face ao volume da campanha referida, re-editou o seu primeiro álbum Veneer nos EUA e na Europa, trabalho este, até à altura, distribuido apenas na Escandinávia. As dúvidas recaíam essencialmente na natureza desta procura, que recolocava agora a faixa Heartbeats na playlist de qualquer rádio, fosse etiquetada ou não como mainstream. Deste modo, encontra-se este In our nature marcado não só pelo sempre presente estigma do segundo álbum, como também pela tarefa de devolver Jose Gonzalez ao seu próprio universo.
Em In our nature Jose Gonzalez resiste à tentação de ornamentar as suas construções, marcadas pelo despojamento instrumental e por uma complexa teia de acordes que vai tecendo na sua guitarra. As soluções que encontra são simples, no que diz respeito aos recursos utilizados, porém, encerram uma falsa simplicidade na estrutura de cada faixa. Cycling trivialities, na minha opinião, o ponto mais alto deste álbum, é o perfeito exemplo dessa técnica, numa constante sobreposição de acordes ao longo de oito longos minutos.
Mas In our nature também surge-nos diferente na escrita de Jose Gonzalez; uma escrita consciente e, por vezes, política. Expressão artística de um autor atento ao mundo que o rodeia, e que já não encontra qualquer satisfação num registo meramente imagético. A sua lírica é agora marcada pela denúncia e por alguma inquietação, latente em faixas como Abram ou How low. Não é estranha pois a presença de Teardrop no alinhamento deste álbum, se nos recordarmos que os Massive Attack estão bem longe de ser um projecto politicamente descomprometido.
Já o colectivo We All Have Hooks For Hands não parece talhado para qualquer campanha publicitária. Oriundos de Sioux Falls, South Dakota, apresentam-nos o album The pretender, exercício de indie pop muito próximo daquilo que os Clap Your Hands Say Yeah! conseguiram ao longo de dois trabalhos. Porém as comparações se resumem ao projecto de Alec Ounsworth e companhia, e talvez a mais certeira seja a referência aos Oh No! Oh My!, projecto que também passou aqui pelo Metro, e que assimila uma indie pop celebratória e bastante espontânea, na qual os coros (por vezes nada coordenados) e a imensa quantidade de sintetizadores utilizada são marcas distintivas. Algo que encontramos neste The pretender, um álbum muito fácil de se escutar, de um aparente caos algo desarmante.
Segunda presença proveniente da Hardly Art Records, editora que alberga também o projecto Arthur & Yu, e que se constituiu como um ramo da Sub Pop Records, os Le Loup são a mais recente descoberta da imprensa indie norte americana. Não vamos aqui discutir se esse é um bom ou mau sinal. Prefiro realçar a qualidade deste seu primeiro trabalho, The throne of the third heaven of nations millenium general assembly, tão intimidatório como o título que ostenta. Tendo sido projectado pelo seu autor, Sam Simkoff, como uma epopeia, a componente literária encontra-se expressa em referências à obra de Dante, assim como à própria estrutura do álbum ao incluir pequenos trechos instrumentais, que separam algumas das faixas, como encontramos também em Illinois de Sufjan Stevens.
Aliás, ele é talvez o fantasma deste album dos Le loup, tal é a sua omnipresença etérea ao longo das suas doze faixas, seja na estrutura do mesmo ou nos intrumentos utilizados que incluem o predilecto banjo, mandolins, assim como os habituais coros que ao longo de Illinois convocam elementos do teatro clássico grego.
Os recursos destes Le Loup são vários, porém, gravitam em torno do trabalho de Sam Simkoff, verdadeiro responsável pelo aparecimento do colectivo de Washington, ao qual foram chegando, ao longo de um ano, os restantes membros integrantes, recrutados em várias áreas artísticas não necessariamente ligadas à música. O mesmo Sam Simkoff, após ter gravado demos de algumas das faixas deste álbum ainda no seu iBook, criou um myspace, o que possibilitou aos Le Loup o ganho gradual de algum culto naquela cidade, distando desde essa altura um pequeno passo para a celebração de um contrato com a Hardy Art Records. Os Le Loup são hoje o perfeito exemplo de uma nova forma de se fazer música, que deve muito às novas tecnologias, não na sua execução, mas sim na sua promoção.
Por fim, destaque para Caribou, aka. Daniel Snaith, projecto no qual a indie pop se cruza com a electrónica, em mais uma viagem pela década de 60, tantas vezes revisitada por projectos como os Super Furry Animals ou os High Llamas, que partilham com Daniel Snaith essa atracção por nomes como Brian Wilson, The Free Design ou The Zombies. Em Andorra, Daniel consegue essa aproximação mais do que em qualquer um dos seus anteriores trabalhos, ao utilizar instrumentos que poderiam ter estado guardados na dispensa de Pet Sounds, e ao conjugar melodiosas vocalizações com a harmonização característica deste tipo de sonoridade. Já descreveram este trabalho de Caribou como música caleidoscópica ou zig zag pelo passado, etiquetas essas que devem agradar bastante ao senhor Daniel Snaith, um professor universitário de matemática que parece ter resolvido algumas das equações deixadas para trás por Brian Wilson.
Metro de 26 de Setembro de 2007
Jose Gonzalez In our nature (Mute; 2007)
01. how low
02. cycling trivialities
03. Abram
04. teardrop
05. the nest
We All Have Hooks For Hands The pretender (Afternoon records; 2007)
01. jumpin' Jean-Luc
02. Elvis' mf Christ
03. the man trying to outfox us all
Metro de 3 de Outubro de 2007
Le Loup The throne of the third heaven of nations millenium general assembly (Hardly Art; 2007)
01. canto I
02. to the stars! To the night!
03. we are gods! We are wolves!
04. i had a dream. I died.
05. howl
Caribou Andorra (Merge; 2007)
01. melody day
02. she's the one
03. Irene
Autoria de Carla Lopes e Pedro Sousa
Daí que se tenha gerado alguma desconfiança em torno deste autor, que em 2005, face ao volume da campanha referida, re-editou o seu primeiro álbum Veneer nos EUA e na Europa, trabalho este, até à altura, distribuido apenas na Escandinávia. As dúvidas recaíam essencialmente na natureza desta procura, que recolocava agora a faixa Heartbeats na playlist de qualquer rádio, fosse etiquetada ou não como mainstream. Deste modo, encontra-se este In our nature marcado não só pelo sempre presente estigma do segundo álbum, como também pela tarefa de devolver Jose Gonzalez ao seu próprio universo.
Em In our nature Jose Gonzalez resiste à tentação de ornamentar as suas construções, marcadas pelo despojamento instrumental e por uma complexa teia de acordes que vai tecendo na sua guitarra. As soluções que encontra são simples, no que diz respeito aos recursos utilizados, porém, encerram uma falsa simplicidade na estrutura de cada faixa. Cycling trivialities, na minha opinião, o ponto mais alto deste álbum, é o perfeito exemplo dessa técnica, numa constante sobreposição de acordes ao longo de oito longos minutos.
Mas In our nature também surge-nos diferente na escrita de Jose Gonzalez; uma escrita consciente e, por vezes, política. Expressão artística de um autor atento ao mundo que o rodeia, e que já não encontra qualquer satisfação num registo meramente imagético. A sua lírica é agora marcada pela denúncia e por alguma inquietação, latente em faixas como Abram ou How low. Não é estranha pois a presença de Teardrop no alinhamento deste álbum, se nos recordarmos que os Massive Attack estão bem longe de ser um projecto politicamente descomprometido.
Já o colectivo We All Have Hooks For Hands não parece talhado para qualquer campanha publicitária. Oriundos de Sioux Falls, South Dakota, apresentam-nos o album The pretender, exercício de indie pop muito próximo daquilo que os Clap Your Hands Say Yeah! conseguiram ao longo de dois trabalhos. Porém as comparações se resumem ao projecto de Alec Ounsworth e companhia, e talvez a mais certeira seja a referência aos Oh No! Oh My!, projecto que também passou aqui pelo Metro, e que assimila uma indie pop celebratória e bastante espontânea, na qual os coros (por vezes nada coordenados) e a imensa quantidade de sintetizadores utilizada são marcas distintivas. Algo que encontramos neste The pretender, um álbum muito fácil de se escutar, de um aparente caos algo desarmante.
Segunda presença proveniente da Hardly Art Records, editora que alberga também o projecto Arthur & Yu, e que se constituiu como um ramo da Sub Pop Records, os Le Loup são a mais recente descoberta da imprensa indie norte americana. Não vamos aqui discutir se esse é um bom ou mau sinal. Prefiro realçar a qualidade deste seu primeiro trabalho, The throne of the third heaven of nations millenium general assembly, tão intimidatório como o título que ostenta. Tendo sido projectado pelo seu autor, Sam Simkoff, como uma epopeia, a componente literária encontra-se expressa em referências à obra de Dante, assim como à própria estrutura do álbum ao incluir pequenos trechos instrumentais, que separam algumas das faixas, como encontramos também em Illinois de Sufjan Stevens.
Aliás, ele é talvez o fantasma deste album dos Le loup, tal é a sua omnipresença etérea ao longo das suas doze faixas, seja na estrutura do mesmo ou nos intrumentos utilizados que incluem o predilecto banjo, mandolins, assim como os habituais coros que ao longo de Illinois convocam elementos do teatro clássico grego.
Os recursos destes Le Loup são vários, porém, gravitam em torno do trabalho de Sam Simkoff, verdadeiro responsável pelo aparecimento do colectivo de Washington, ao qual foram chegando, ao longo de um ano, os restantes membros integrantes, recrutados em várias áreas artísticas não necessariamente ligadas à música. O mesmo Sam Simkoff, após ter gravado demos de algumas das faixas deste álbum ainda no seu iBook, criou um myspace, o que possibilitou aos Le Loup o ganho gradual de algum culto naquela cidade, distando desde essa altura um pequeno passo para a celebração de um contrato com a Hardy Art Records. Os Le Loup são hoje o perfeito exemplo de uma nova forma de se fazer música, que deve muito às novas tecnologias, não na sua execução, mas sim na sua promoção.
Por fim, destaque para Caribou, aka. Daniel Snaith, projecto no qual a indie pop se cruza com a electrónica, em mais uma viagem pela década de 60, tantas vezes revisitada por projectos como os Super Furry Animals ou os High Llamas, que partilham com Daniel Snaith essa atracção por nomes como Brian Wilson, The Free Design ou The Zombies. Em Andorra, Daniel consegue essa aproximação mais do que em qualquer um dos seus anteriores trabalhos, ao utilizar instrumentos que poderiam ter estado guardados na dispensa de Pet Sounds, e ao conjugar melodiosas vocalizações com a harmonização característica deste tipo de sonoridade. Já descreveram este trabalho de Caribou como música caleidoscópica ou zig zag pelo passado, etiquetas essas que devem agradar bastante ao senhor Daniel Snaith, um professor universitário de matemática que parece ter resolvido algumas das equações deixadas para trás por Brian Wilson.
Metro de 26 de Setembro de 2007
Jose Gonzalez In our nature (Mute; 2007)
01. how low
02. cycling trivialities
03. Abram
04. teardrop
05. the nest
We All Have Hooks For Hands The pretender (Afternoon records; 2007)
01. jumpin' Jean-Luc
02. Elvis' mf Christ
03. the man trying to outfox us all
Metro de 3 de Outubro de 2007
Le Loup The throne of the third heaven of nations millenium general assembly (Hardly Art; 2007)
01. canto I
02. to the stars! To the night!
03. we are gods! We are wolves!
04. i had a dream. I died.
05. howl
Caribou Andorra (Merge; 2007)
01. melody day
02. she's the one
03. Irene
Autoria de Carla Lopes e Pedro Sousa
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