quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Gloria Esperanza Montoya

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Quando, ao longo de um álbum, as suas faixas nos surgem dispersas e estanques, desprovidas de um fio condutor que as entrelace, esse trabalho poderá nos surgir como menor. É certo que a fórmula não garante uma prevalência de uns sobre os outros, mas qualquer álbum conceptual envolve uma componente muito apelativa: a sua lírica. Aqui, o autor ganha uma dimensão de narrador, rascunhando um roteiro que teima em cumprir ao longo de uma dúzia de faixas, partindo de conceitos tão inusitados como cores (Whirlwind Heat Do rabbits wonder?), signos (Sufjan Stevens The year of), as 24 horas de um dia (The Divine Comedy Promenade) ou mesmo um próprio fio ou marca que percorre todas as composições (Camille Le fil). A definição de limites prévios por parte do autor assemelha-se bastante ao escritor que escreve uma short story, tendo de guiar as suas personagens através de um percurso demarcado na sua extensão, condensando a narrativa em cada momento.



Mas uma maior dimensão ganha um álbum conceptual quando a narrativa que o alimenta é actual e verdadeira. Este é o caso de Glory Hope Mountain, o segundo exercício dos The Acorn, projecto oriundo de Ottawa, Ontario, através do qual Rolf Klausener narra a epopeia da sua mãe Gloria Esperanza Montoya, desde os tempos quando ainda jovem era forçada a trabalhar nos campos das Honduras, até à sua fuga para o Canadá, e à forma heróica como resistiu até encontrar a estabilidade.

Ao longo de doze faixas seguimos um relato de alguém que procurou sobreviver, focando cada uma das letras uma das questões mais prementes e actuais deste milénio: os fluxos migratórios e a incapacidade de, por vezes, os países de acolhimento lhes darem uma resposta.



Esta viagem é pontuada pelas influências do próprio Rolf Klausener, pelo que encontramos uma forte influência da música tradicional hondurenha e incursões por sonoridades africanas, designadamente do Mali, país no qual Rolf passou algum tempo da sua vida. Porém não se trata de um registo de world music cantado em inglês, mas sim um trabalho onde se sobrepõem hemisférios, e no qual a sedentária fórmula da indie pop/folk norte americana é enriquecida pelo passado do seu autor.

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Metro este remetido ao continente americano, passando novamente por Austin, desta vez destacando o projecto Peter & The Wolf. O seu mais recente trabalho, The Ivori Palms, demonstra mais uma vez a efervescência criativa daquela cidade no panorama actual da indie folk. De lá têm saído alguns dos mais aliciantes trabalhos destes últimos anos, fenómeno que de resto já teve um particular tratamento em passadas edições do Metro. Desta vez Red Hunter rodeia-se de alguns nomes que partilham consigo o mesmo imaginário, como Dana Falconberry e Bill Baird, compondo um trabalho nocturno, descritivo e muito intimista, pontuado por composições de uma beleza latente. Trata-se acima de tudo da confirmação deste rapaz como um dos nomes a ter em conta no território da indie folk.



The Acorn Glory hope mountain (Paper Bag Records; 2007)

01. flood pt. 1
02. crooked legs
03. low gravity
04. even while you're sleeping
05. oh Napoleaon

Peter & The Wolf The ivori palms (S/r; 2007)

01. scarlet & grey
02. the bike of Jonas
03. ghost sandals
04. the beggar's waltz

Metro realizado por Pedro Sousa e Carla Lopes


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