sábado, 7 de junho de 2008

crónicas do Primavera Sound - partes 2 e 3

Chegam com quase uma semana de atraso, mas ainda assim aqui ficam...


Sexta-feira, 30/05:

Depois de uma noite necessariamente mal dormida, não houve tempo para muito mais que um kebab antes de regressarmos ao Fórum, para um dia de apostas fortes. O timing foi perfeito. Entrar, correr para o palco Vice, e assistir a um dos concerto mas que mais expectativas nos criavam: os californianos No Age. Sem muito material editado até ao momento, era de esperar, tal como aconteceu, que o concerto se dividisse entre os hinos de Weirdo Rippers e as canções mais imediatas do recente Nouns. A seguir a isto exigia-se descanso, pelo que assistimos de longe ao concerto dos dinossauros The Sonics, enquanto recuperávamos forças na expectativa de um dos espectáculos que mais expectativas criavam: os Norte-Americanos Autolux. É inexplicável a tensão que se fez sentir durante essa hora. Um set inteligentíssimo, em que souberam deixar de fora os trunfos de Future Perfect, para brindarem o público presente com bastantes temas novos que irão certamente figurar em Transit Transit, como o primeiro avanço Audience no. 2. Seguramente um dos melhores momentos de todo o festival até agora. E a única boa razão para prescindir dos históricos Sebadoh.

Mais uma pausa para descanso, novamente ao som de dinossauros; desta feita os DEVO! (um concerto fabuloso, diga-se, mesmo visto de longe), e nova corrida para o ATP, novamente para uma proposta de extrema importância na actualidade: os britânicos Fuck Buttons. Um concerto abrasivo baseado no único álbum da banda, Street Horrrsing perante um público que parecia saber bem ao que ia, ao contrario do duo que não escondeu a surpresa pela calorosa recepção obtida.

O cansaço, que era por esta altura extremo, desvaneceu-se com a actuação dos The Go! Team num dos palcos principais. Não que o concerto fosse motivo para descanso, mas a energia de Ninja e Cia. era de tal forma contagiante que durante mais de uma hora foi impossível parar de saltar ao ritmo das canções de Thunder, Lightning, Strike! e Proof of Youth.

Até ao final, tempo apenas para assistir aos devaneios tropicais de El Guincho, artista da casa que tem ganho uma firma reputação internacional nos últimos meses à custa do excelente Alegranza!, com que recebeu rasgados elogios e comparações a Panda Bear por parte da imprensa especializada.

O peso excessivo do cansaço acumulado levou-nos a prescindir, com muita pena, dos canadianos Holy Fuck. Restava-nos esperar pelo metro e regressar a casa, na esperança de recuperar forças para o último dia da edição deste ano do festival Primavera Sound.


Sábado, 31/05

Mais uma vez, o cansaço fez das suas. A necessidade de poupar esforços levou-nos a prescindir de nomes como Bon Iver e Times New Viking, já que a noite que se avizinhava prometia demasiados concertos imperdíveis.

Logo a abrir, no palco Vice, a actuação do menino-prodígio Bradford Cox, aliás Atlas Sound. Uma performance pontuada por muitos momentos de amena cavaqueira com o público, entrecortados por canções perfeitamente desconhecidas, mas com o habitual toque de Midas do vocalista dos Deerhunter, que também haviam de tocar nessa noite.

Por essa altura começávamos já a antecipar com alguma ansiedade um dos momentos mais aguardados do festival: o concerto dos enigmáticos Young Marble Giants, quase trinta anos após a edição de Colossal Youth, o único registo da banda. Houve, ainda assim, tempo para nos dividirmos entre Silver Jews e Lightspeed Champion para três ou quatro canções antes de nos deslocarmos ao auditório do Fórum Barcelona. Valeu a pena, diga-se, criar expectativas acerca do concerto que aí vinha. Os Young Marble Giants iguais a si próprios (ou iguais àquilo que seria de esperar deles), num alinhamento em que tocaram praticamente todos os temas dessa peça de culto que é Colossal Youth de forma absolutamente exímia. E mais estáticos que uns Kraftwerk daqui a quinze anos.

Findo o concerto no auditório, tempo para mais uma pausa. Ao longe podia escutar-se a actuação de Stephen Malkmus no palco Vice. Mas o concerto que se aproximava exigia descanso prévio. Regresso ao palco ATP para reencontrar Bradford Cox e os Deerhunter. O arranque ao som de Spring Hall Convert ajudou a reforçar a convicção de que este seria um dos concertos mais intensos de todo o festival, e assim foi. Entre as canções de Cryptograms e muitos, mesmo muitos temas a figurar no próximo álbum da banda (Microcastles, ainda sem data de edição marcada) os Deerhunter mostraram-se mais maduros em palco, ainda que sem perder a inocência e a alegria de tocar que desde o início os caracterizou. Nenhuma expectativa foi defraudada.

Tempo para mais uma pausa, desta feita para auscultar opiniões no backstage do palco ATP, por onde vimos passar algumas das pessoas mais importantes da música na actualidade. Por lá andavam os Shellac de Steve Albini, cuja actuação sucedeu a dos Deerhunter. De seguida, mais uma performance brilhante: Les Savy Fav, que apesar de estarem a promover um álbum menos bem conseguido que os anteriores (Let’s Stay Friends), provaram que é no palco que atingem a totalidade do seu potencial, levando ao rubro aquela que foi talvez a maior plateia do palco ATP.

As atenções deslocaram-se de seguida para o palco Estrella Damm, um dos principais, onde actuaram os Animal Collective, para um dos melhores momentos de todo o festival. Era de esperar, diga-se. Ainda assim não deixou de ser um espectáculo impressionante, sobretudo tendo em conta os milhares e milhares de pessoas que a ele assistiam num êxtase absoluto. E assim se fechou com chave de ouro mais uma edição de um dos melhores festivais de música do mundo.

 

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