domingo, 29 de julho de 2007

O grande satã ou a grande maçã?

O Metro de Quarta-feira tem sido marcado por sucessivas incursões pela América profunda. A mesma que corre lado a lado com o Mississipi e se perde na sua própria vastidão, agarrando-se ainda hoje às suas raízes, que demarcam também o seu território sonoro e das quais emergem vocalizações despojadas, assim como o uso de elementos vários que nos remetem para a tradição dos storytellers.

Dana Falconberry, Martin Crane, Oh no! Oh my! Great Lake swimmers, Ola Podrida, St. Vincent... de uma forma ou de outra, sejam mais ou menos folk, alguns dos nomes que têm passado pelo Metro de Quarta-feira, partilham essa marca cultural, moldada pela geografia, que se reflecte numa produção criativa de simples recursos, livre e inóspita...

Porém, se espreitarmos a outra América, aquela bem menos profunda, e que se estende ao longo das duas costas, poderemos encontrar essa mesma simplicidade de processos. É claro que, neste caso, a marca cultural é inegavelmente urbana, e por vezes, intimamente ligada a movimentos artísticos, mas, em certos casos, o despojamento persiste.

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Heather D'Angelo e Justin Friedman (2007)

Daí que este Metro tenha dado a conhecer os Bishop Allen e os The Boggs, dois projectos, oriundos de NYC, que parecem estar destinados a provar que se podem fazer grandes albuns, sem grandes recursos.

Os primeiros são o projecto de Justin Rice e Christian Rudder, dois nova iorquinos que partilharam a mesma residência universitária em Harvard e uma curta carreira cinematográfica, a qual teve expressão apenas em alguns filmes independentes (apesar de ainda hoje continuarem a participar em castings sempre que podem). Em 2006, após Charm school, um primeiro trabalho de edição limitada (self released), propõem-se a gravar uma sucessão de 12 EP's, que se distribuiriam de acordo com o número de meses, de Janeiro a Dezembro. Essa hercúlea jornada chama a atenção da imprensa especializada, e forma um pequeno culto entre os seus seguidores, que se estende a vários blogs, e se reveste de um certo espírito de coleccionismo. Todos os EP's apresentam um mesmo grafismo, pelo que Justin em várias entrevistas refere que a proposta é a de uma colecção, que deve ser trocada, como se de cromos de tratasse. O seu conteúdo, esse é descrito como DIY, ou meramente homecrafted, ao qual não é estranho o facto de estes dois rapazes terem assinado toda a instrumentalização e gravado, a maior parte das vezes, no seu apartamento. Em 2007 surge então The broken string, ou a lógica compilação de algumas das faixas editadas ao longo do ano, fugindo apenas àquela qualificação pelo facto de algumas delas terem sofrido alterações. Pelo caminho juntaram-se aos Bishop Allen o baterista Cully Symington, assim como Darbie Nowatka, que para além do artwork, acabaria por assinar também a vocalização desta Butterfly nets...



Se os Bishop Allen nos apresentam uma NYC multicultural, dispersa por temas como Corazon ou The Chinatown bus, que encerra uma cultura de couch surfing, ou de avidez artística no single Click click click click, já os The Boggs enquadram-na em tons mais caóticos, frios, e acima de tudo urbanos. Para o conseguir, trazem para primeiro plano as guitarras e uma quase mecânica secção rítmica, a fazer-nos recordar alguns trabalhos dos The Kills ou dos Handsome Furs. Justin Friedman e Heather D'Angelo (das Au Revoir Simone) dividem as vocalizações, por vezes descuidadas, como se de um manifesto, e não de um album, se tratasse. Mas talvez este Forts tenha mesmo muito de manifesto, descordenado nas suas palavras de ordem, que ora se fazem escutar de forma repetida, ora são castradas pelo silêncio e pelo retomar do próprio fôlego.




Bishop Allen
The broken string (Plug research; 2007)

01. like castanets
02. click click click click
03. flight 180
04. butterfly nets
05. corazon

The Boggs Forts (Gigantic records; 2007)

01. remember the orphans
02. Melanie in the white coat
03. one year on
04. arm in arm

Bishop Allen myspace
The Boggs myspace

Faltam 3 dias para o próximo Metro...


Co-autoria de Carla Lopes e Pedro Sousa

1 comentário:

Anónimo disse...

Inerte, sofreador, jungido a joeirar.
Deixara de se, de onde.
Apreende-se espaço.
Por vir, esticado, no decurso.